Trata-se de uma série sul-coreana
veiculada pela plataforma Netflix sobre uma advogada de espectro autista com altíssimo
QI. O texto traz à tona a invisibilidade e demais dificuldades das pessoas portadoras
do transtorno lidando com o tema de forma leve, sensível e até um pouco
bem-humorada, fazendo muitas vezes o expectador esquecer a essência dramática.
A história tem início com o
primeiro dia de trabalho da dra. Woo Young-woo em um grande escritório de
advocacia de Seul após seis meses de tentativas infrutíferas de conseguir emprego,
mesmo tendo sido a melhor aluna na universidade que cursou e destaque no exame
da ordem dos advogados. A razão de a dra. Woo ter conseguido a vaga na firma não
tem relação com seu currículo, mas, aos poucos, ela vai passando por cima do
preconceito e conquistando o respeito dos colegas, quando com suas saídas
brilhantes para casos aparentemente sem solução, demonstra ser mais competente do
que a maioria deles.
Woo recebeu seu diagnóstico
aos 2 anos de idade, mas apenas proferiu suas primeiras palavras aos cinco.
Estas foram a citação de um artigo do código penal para livrar seu pai de uma
situação de agressão, demonstrando assim a sua genialidade ao aprender direito
lendo sozinha em casa.
Yuong-Woo chama a atenção do
advogado mais disputado do escritório e inicia um relacionamento. A trama não
esconde as dificuldades que tal romance carrega consigo.
O transtorno de espectro autista
(TEA) é um atraso no neurodesenvolvimento que, em sua essência, afeta o modo
como a pessoa percebe e socializa com os outros. Podemos observar as
características do autismo de Woo na sua dificuldade de socialização,
seletividade alimentar, aversão ao toque, raciocínio acelerado, ecolalia, hiper
foco, literalidade, comportamentos repetitivos e dificuldade em compreender
comportamentos e emoções.
A obra tem sido apontada como
fantasiosa por familiares de pessoas portadoras de TEA. Eles acusam a trama de
romantizar o autismo por acreditarem ser impossível alguém com essa condição
alcançar o sucesso da dra. Woo. Mas não é o que a vida real mostra.
A história foi inspirada em
Mary Temple Gradim, americana de 74 anos, zootecnista com autismo de alta
funcionalidade. Diagnosticada aos 2 anos, ela rejeitou o contato humano, sofreu
bullying e chamou a atenção em atividades extracurriculares assim como a
protagonista da série. Gradim criou métodos de tratar animais vivos em fazendas
e abatedouros. Ela se formou em psicologia, tem mestrado em zootecnia na
Universidade Estadual do Arizona e é PH.D. em zootecnia pela Universidade de
Illinois.
Especialistas afirmam que
cerca de um terço das pessoas com esse transtorno têm inteligência média ou
acima da média. Além disso, podem apresentar pouca ou até nenhuma estereotipia
visível, muitas vezes nem chegando a ter conhecimento de sua condição.
O senso comum não sabe, mas há
muitas formas bem leves de autismo, e
estas, além muitas vezes quase imperceptíveis, vêm acompanhada da excelência
acadêmica. É o caso da advogada em tela. Claro que nem toda pessoa portadora de
TEA consegue ter uma vida com a autonomia da dra. Woo.
O autismo é classificado em
graus de acordo com a necessidade de suporte e características do portador e,
independente do nível, quanto mais cedo for realizado o diagnóstico e
encaminhamento para intervenções comportamentais e educacionais, melhores serão
os resultados.
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