20 março, 2023

Uma advogada extraordinária – Contém spoiler.

 



Trata-se de uma série sul-coreana veiculada pela plataforma Netflix sobre uma advogada de espectro autista com altíssimo QI. O texto traz à tona a invisibilidade e demais dificuldades das pessoas portadoras do transtorno lidando com o tema de forma leve, sensível e até um pouco bem-humorada, fazendo muitas vezes o expectador esquecer a essência dramática.

A história tem início com o primeiro dia de trabalho da dra. Woo Young-woo em um grande escritório de advocacia de Seul após seis meses de tentativas infrutíferas de conseguir emprego, mesmo tendo sido a melhor aluna na universidade que cursou e destaque no exame da ordem dos advogados. A razão de a dra. Woo ter conseguido a vaga na firma não tem relação com seu currículo, mas, aos poucos, ela vai passando por cima do preconceito e conquistando o respeito dos colegas, quando com suas saídas brilhantes para casos aparentemente sem solução, demonstra ser mais competente do que a maioria deles.

Woo recebeu seu diagnóstico aos 2 anos de idade, mas apenas proferiu suas primeiras palavras aos cinco. Estas foram a citação de um artigo do código penal para livrar seu pai de uma situação de agressão, demonstrando assim a sua genialidade ao aprender direito lendo sozinha em casa.

Yuong-Woo chama a atenção do advogado mais disputado do escritório e inicia um relacionamento. A trama não esconde as dificuldades que tal romance carrega consigo.

O transtorno de espectro autista (TEA) é um atraso no neurodesenvolvimento que, em sua essência, afeta o modo como a pessoa percebe e socializa com os outros. Podemos observar as características do autismo de Woo na sua dificuldade de socialização, seletividade alimentar, aversão ao toque, raciocínio acelerado, ecolalia, hiper foco, literalidade, comportamentos repetitivos e dificuldade em compreender comportamentos e emoções.

A obra tem sido apontada como fantasiosa por familiares de pessoas portadoras de TEA. Eles acusam a trama de romantizar o autismo por acreditarem ser impossível alguém com essa condição alcançar o sucesso da dra. Woo. Mas não é o que a vida real mostra.

A história foi inspirada em Mary Temple Gradim, americana de 74 anos, zootecnista com autismo de alta funcionalidade. Diagnosticada aos 2 anos, ela rejeitou o contato humano, sofreu bullying e chamou a atenção em atividades extracurriculares assim como a protagonista da série. Gradim criou métodos de tratar animais vivos em fazendas e abatedouros. Ela se formou em psicologia, tem mestrado em zootecnia na Universidade Estadual do Arizona e é PH.D. em zootecnia pela Universidade de Illinois.

Especialistas afirmam que cerca de um terço das pessoas com esse transtorno têm inteligência média ou acima da média. Além disso, podem apresentar pouca ou até nenhuma estereotipia visível, muitas vezes nem chegando a ter conhecimento de sua condição.

O senso comum não sabe, mas há muitas formas bem leves de autismo,  e estas, além muitas vezes quase imperceptíveis, vêm acompanhada da excelência acadêmica. É o caso da advogada em tela. Claro que nem toda pessoa portadora de TEA consegue ter uma vida com a autonomia da dra. Woo.

O autismo é classificado em graus de acordo com a necessidade de suporte e características do portador e, independente do nível, quanto mais cedo for realizado o diagnóstico e encaminhamento para intervenções comportamentais e educacionais, melhores serão os resultados.

 

 

 

 

 

 

 

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