28 março, 2023

Resenha sobre o livro "O Alienista", de Machado de Assis (contém spoilers)

 


Simão Bacamarte é o personagem principal do romance escrito por Machado de Assis. O protagonista do livro nomeado “O Alienista” tem uma profissão que, nos dias de hoje, seria equivalente a um psiquiatra. Ele resolve construir a Casa Verde que, “trocando em miúdos”, seria o que conhecemos por manicômio ou hospital psiquiátrico.

A história se passa na época do Brasil colônia e o protagonista tem a ambição ou sonho de encontrar a cura para a loucura. Machado de Assis, com sua genialidade ímpar, questiona o valor dado a ciência, que já nesta época, é entendida como se fosse uma verdade absoluta.

O romance traz à tona, em 1871, a questão da loucura e normalidade, assuntos que até hoje são tabus. O que é loucura? Alguém é completamente normal? Com a leitura deste livro, conseguimos perceber que NÃO, ninguém é completamente normal.

Simão Bacamarte, durante sua trajetória na Casa Verde, acaba encarcerando praticamente a cidade toda. É neste ponto que Machado de Assis toca em uma questão do tratamento que é dado as pessoas que não são consideradas normais. Essas pessoas são, tanto no livro, quanto no Brasil daquela época, totalmente retiradas de circulação, privados de sua liberdade e de condições de vida digna. É um tratamento totalmente higienista e, até, porque não dizer, cruel.

Machado de Assis nos faz refletir também sobre psicofobia, por que a sociedade trata as pessoas com psicopatologias como se elas nem existissem? Por que trata como seres incapazes? Por que não somos capazes de conviver com pessoas consideradas “diferentes” e o que isso diz sobre nós enquanto sociedade? Não posso deixar de lembrá-los de grandes artistas como Van Gogh e grandes líderes, como Winston Churchill, sofriam com psicopatologias e foram considerados “loucos”, em sua época.

Um artigo publicado na Revista Americana de Psiquiatria descreve o pintor holandês Vincent Van Gogh como dono de “uma personalidade excêntrica e um humor instável, sofrendo de recorrentes episódios psicóticos nos dois últimos anos de sua vida”. Entre os diagnósticos apontados pelo artigo estão depressão, bipolaridadeepilepsia e esquizofrenia. Muito do estado mental de Van Gogh aparece em seu estilo de pintura impressionista, com pinceladas fortes e marcantes e a preferência por tons azuis (cor que remete à depressão).

O mais célebre primeiro-ministro da Grã-Bretanha, que liderou o país durante a Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill, sofria de episódios recorrentes de depressão. Para ele, o transtorno era como um cachorro preto, que volta e meia lhe fazia companhia. Isso o levava a episódios de mania, pensamentos suicidas e sonolência. Mais tarde, seu diagnóstico oficial foi apontado como distúrbio de bipolaridade.

 

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