Assisti recentemente a um filme com uma das histórias mais
inspiradoras, já adaptadas para o cinema, A
Felicidade não se Compra (It’s a Wonderful Life), obra-prima do diretor
Frank Capra. O longa-metragem foi lançado em 1946, na chamada Era de Ouro do
cinema de Hollywood e o seu roteiro baseou-se no conto The Greatest Gift, do escritor americano Philip Van Doren Stern,
publicado em 1943.
Em síntese a história
se passa na pequena cidade de Bedford Falls, no período natalino: o personagem
principal, George Bailey, um homem carismático que sempre ajudou a todos, pensa
em se suicidar, pulando de uma ponte, em razão de problemas financeiros. Mas
tantas pessoas rezam por George, que, Clarence, um anjo, é enviado à Terra para
tentar fazer com que ele mude de ideia, demonstrando a importância da vida, de
como ele foi importante na história de tantas pessoas ao longo dos anos,
através de flashbacks.
Frank Capra foi um gênio incomparável na arte de criar
fábulas grandiosas. Reconhecido por sua habilidade de realizar grandes obras a
partir de histórias relativamente simples. Esse seu filme nos impulsiona a
querer viver com intensidade cada vez que nos lembramos dele, pois está repleto
de mensagens sobre valores e autoestima, sobre como é bom viver, apesar dos
problemas que muitas vezes temos que enfrentar. Todos nós, seres humanos,
muitas vezes não conseguimos dar valor a nós mesmos, como se não tivéssemos um
espelho, para nos enxergar e dependêssemos de outras pessoas para nos dizer
coisas básicas, por exemplo, que somos importantes para alguém. Esse é o papel
do anjo no filme, mostrar ao personagem que ele é importante para muitas
pessoas ao seu redor, e que todos os problemas tem solução.
Você, caro leitor, já parou para imaginar como seria o mundo
sem você? Como seria a vida das pessoas
no seu contexto? A velha frase " Eu
era feliz e não sabia" parece clichê, mas, muitas vezes, nós nos
lamentamos por motivos tão pequenos, e esquecemos quantas coisas boas existem
em nossa vida. Se pudéssemos ter a mesma oportunidade que teve George Bailey,
rever o passado dele em flashes, veríamos que a vida é mesmo algo incrível e
daríamos importância a muitos fatos que nos passam desapercebidos.
A Felicidade
nãos se Compra é certamente, um filme ótimo para aqueles dias em que estamos
meio que cabisbaixos, tristes; nos dá uma excelente impressão de nossa
relevância como ser humano único neste mundo de quase oito bilhões de
pessoas. Em momentos como os que estamos
vivendo, filmes dessa natureza fazem com que se reacenda a nossa esperança na
bondade do ser humano.
Você já parou para pensar como seria a vida das pessoas se
você não tivesse nascido? A Felicidade
não se Compra nos faz refletir sobre nossa influência na vida de quem nos
cerca, simplesmente por estarmos aqui, existindo. Uma espécie de laço invisível
nos une. Nossa vivência é feita também de histórias paralelas, mas que, às
vezes, se cruzam dando inúmeros sentidos às coincidências que o acaso
proporciona. Fatos que nos levam a questionar o porquê de conhecermos e nos
relacionarmos com determinadas pessoas dentre tantas outras. Como se
estivéssemos ligados por algum fio impressentido, a nossa existência neste
mundo ganha significado em relação à existência do outro.
Em meio a essa temática instigante, o filme de Capra nos
leva a questionar: Será que precisamos que um anjo desça do Céu e nos convença
de nossa importância no mundo para passarmos a amar a vida do jeito que ela é?
A Felicidade não se Compra nos emociona,
profundamente. Uma bela história contada com simplicidade e sensibilidade, com
um elenco de atores admiráveis. Filme que nos lembra Aristóteles, quando este
discorre sobre a felicidade e afirma que ela é o bem maior desejado pelo ser
humano, de tal modo que nossas ações convergirão sempre para esse fim. No dizer
do filósofo grego, a vida contemplativa é o ideal a que aspira o ser humano, e,
portanto, sua felicidade.
Que vivamos bem, de cabeça erguida, continuamente com
esperanças de dias melhores, lembrando que tudo passa, que tudo pode ser
superado, mesmo com as dificuldades que surgem, pois sempre haverá aquela
pessoa que torce por nós. Como diz uma canção popular, “Eu espero que você não
se importe/ Que eu expresse em palavras/Como a vida é maravilhosa por você
estar no mundo”. (“Your Song” de Elton John).
Por Thiago Gonzaga
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