12 março, 2023

Análise Psicológica do Filme - A Baleia (contém spoilers)


A Baleia (2022) é um drama com bastante conteúdo psicológico, dirigido por Darren Aronofsky, o mesmo diretor de Cisne Negro (2010).  A obra é uma  adaptação de uma peça de teatro homônima, escrita por Samuel Hunter, com várias referências ao clássico da literatura Moby Dick.

No filme o personagem Charlie, interpretado brilhantemente pelo ator Brendan Fraser, é um homem com obesidade mórbida e que, devido a tal condição, enfrenta graves problemas de saúde. Charlie, trabalha ministrando aulas de inglês e redação, no formato online, em seu apartamento, lugar de onde não sai há muito tempo.

Há oito anos ele abandonou a filha (com 8 anos à época) e a esposa, para assumir um relacionamento homoafetivo com um de seus alunos. Tempos  depois esse homem foi encontrado morto, após jogar-se de uma ponte, e a partir daí Charlie começa  a engordar de forma desenfreada, como uma maneira inconsciente de repelir o mundo exterior e se autodestruir. No fundo tudo isso acontece devido à sua incapacidade de lidar com as dores da perda do parceiro. 

Após todos esses anos de descuido com a saúde, Charlie encontra-se à beira da morte e tem como último desejo ter a oportunidade de se reaproximar da filha. Assim, ele suporta, sem se importar, todos os desaforos por ela ditos em troca dessa reaproximação. Até que, em seu último momento ela o chama de pai e ele consegue levantar sozinho aproxima-se dela, em uma mistura de sonho com realidade.

O filme tem dividido opiniões e gerado muita polêmica devido à forma como apresenta uma pessoa com obesidade, bem como pela crítica ao fanatismo religioso;  contudo esse texto objetiva apenas fazer uma análise do personagem principal  sob a perspectiva da psicologia.

Charlie é um personagem com três transtornos mentais entre neuroses obsessivas e neuroses fóbicas

Transtorno de Estresse Pós- Traumático (TEPT)- O personagem carrega um sentimento de culpa imenso por ter abandonado a filha e pela morte de seu companheiro, que ele atribui a uma espécie de castigo divino por ter deixado a família para viver um relacionamento homoafetivo. Observa-se a força dessa culpa, inclusive, nos diversos momento em que ele pede desculpas à sua amiga. Percebe-se aí sua autoimagem negativa, é como se ele julgasse sempre que está errado. Ele acha que as pessoas que ele ama sempre vão embora. No inconsciente, ele sempre perde e isso acontece sempre por sua culpa.

Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico – Quando Charlie fica muito ansioso, constrangido ou sentindo-se culpado ele passa a comer em grandes quantidades e de forma rápida, chegando muitas vezes a sufocar-se com a comida, por não mastigar o alimento.

Transtorno de personalidade Esquiva – Em razão de sua aparência física, ele desenvolveu uma fobia a ser rejeitado. Por isso não sai mais de casa, ministra suas aulas online com a câmera desligada e deixa o dinheiro da comida que pede na caixa de correio para não ser visto pelo entregador.

Muito além de uma crítica à pessoa com obesidade ou a qualquer movimento religioso, esse filme fala sobre culpa, sobre alguém que carrega um luto tão grande a ponto de refugiar-se em seu próprio corpo. A sua aparência é um mero reflexo do quão destruído ele está por dentro.

Essa culpa excessiva também pode ser observada no relacionamento com sua filha. Ele tem uma necessidade imensa de ser perdoado, que faz de tudo para ficar perto dela. Mesmo sendo humilhado o tempo inteiro, ele insiste em ajudá-la na redação e ver nela sempre o que há de melhor. Além disso, renuncia a todo o seu dinheiro para ela, deixando inclusive de gastar com sua própria saúde e faz questão de frisar o quanto a filha é especial e como ele sente orgulho dela.

Uma das grandes lições que esse filme  deixa, pelo viés da psicologia, na minha opinião, é importância do cuidado com a nossa saúde mental. Se Charlie tivesse acolhido e cuidado das suas dores, talvez esse filme tivesse um desfecho bem diferente. 

Transtornos mentais são problemas sérios. Cuide-se e cuide de quem você ama.

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