EU, CAÇADOR DE MIM.
Thiago Gonzaga
“Nenhum homem é uma ilha"
John Donne
Se
tivéssemos que escolher apenas dez letras de músicas das mais lindas que já
ouvimos em toda nossa vida, com certeza incluirÃamos essa da letra a seguir:
Por tanto amor, por tanta
emoção/A vida me fez assim/Doce ou atroz, manso ou feroz/Eu, caçador de
mim/Preso a canções/Entregue a paixões que nunca/Tiveram fim/Vou me encontrar
longe do meu lugar/Eu, caçador de mim/Nada a temer/Senão o correr da luta/Nada
a fazer/Senão esquecer o medo/Abrir o peito à força/Numa procura/Fugir à s
armadilhas da mata escura/Longe se vai sonhando demais/Mas onde se chega
assim/Vou descobrir o que me faz sentir/Eu, caçador de mim...
Composição
de Luiz Carlos Sá (do Sá e Guarabyra) e Sérgio Magrão (do 14Bis), “Caçador de
Mim” ficou nacionalmente conhecida na voz de Milton Nascimento, lançada em 1981
no disco homônimo, que também trazia outra canção marcante, “Nos Bailes da
Vida”.
Obra-prima
desses autores, “Caçador de Mim” é um presente para os ouvidos e para a alma,
poesia pura. Como tema central, a composição trata sobre a busca por autoconhecimento
e aceitação da própria identidade do ser. Na nossa percepção ela trata de crise
existencial: o ser humano tentando encontrar seu lugar no mundo. Na realidade,
é uma profunda reflexão: que se aproxima muito do grande questionamento do
homem, “quem sou, de onde vim e pra onde vou”. Tudo nessa canção emociona,
desde a impactante introdução até o solo de guitarra no final. Melodia linda,
parece não ser deste mundo, é quase uma epifania.
Em
tempos tão conturbados, como os que temos vivido, onde tudo se mistura e se
confunde, ouvir música "de verdade" como essa, com letra, melodia e
voz perfeitas é um presente dos deuses.
Poeta,
cantor e compositor, Milton Nascimento dispensa qualquer apresentação. Nascido
no Rio de Janeiro em 1942, desde criança demonstrava interesse pela música.
Formou com Lô Borges, Beto Guedes, Márcio Borges e Fernando Brant, o famoso
Clube da Esquina. As coisas de fato
aconteceram em sua vida, musicalmente falando, quando conheceu Elis Regina, que
gravou “Canção do Sal”, sua primeira composição. Ainda nessa década Milton
Nascimento teve três músicas classificadas no Festival Internacional da Canção
da TV Globo, que consagrou o cantor como o melhor intérprete, e a música
“Travessia”, composta em parceria com Fernando Brant, conquistou o segundo
lugar no festival. Em 1972, Milton Nascimento lançou, junto com Lô Borges, o clássico
álbum “Clube da Esquina”. Dentre suas mais celebradas canções estão:
"Travessia", "Clube da Esquina", “Nada Será Como Antes”,
“Maria, Maria”, “Canção da América” e “Coração de Estudante”.
Voltando
à reflexão sobre “Caçador de Mim”, ao final das contas, deverÃamos ter a
consciência de que o que importa na vida é não parar de lutar, não parar de
seguir nossa jornada, descobrir-se, conhecer-se. Sonhar, planejar, imaginar,
fazem parte do processo de encontrar-se. Conhece-te a ti mesmo, esse talvez
seja o grande segredo da vida. Que
outras preocupações sejam insignificantes diante da vontade de ser, de fazer a
diferença. Que as limitações do ser e as decepções do caminho sejam motivadoras
de crescimento, de aprendizado. Quando
pensamos “sonhar demais” ou “sentir demais”, vale considerar que o sonho e o
sentir compõem a tentativa de definição que buscamos a vida toda. Há tanto para
ser visto e vivido, por que não ousar? Afinal de contas, só temos uma vida, e
ela passa muito rápido...
A
inspiração contida em “Caçador de Mim” nos faz relembrar também a famosa frase: “E por isso não perguntai por quem os sinos
dobram; eles dobram por vós”, do poeta John Donne. Foi a partir dessa
sentença que o escritor Ernest Hemingway, encontrou inspiração para o tÃtulo do
seu romance “Por Quem os Sinos Dobram” (1940). Obra-prima, que conduz o homem a
um encontro consigo mesmo, e com o próximo.
Portanto,
não me pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por ti. A vida está ai,
com todas as oportunidades. Que possamos viver bem e ser felizes, nos
relacionar bem com o próximo, ser o caçador de nós mesmos e sobretudo nos
encontrarmos, no nosso caminho e na vida. Assim teremos mais razão para viver.
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